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sábado, 24 de maio de 2014

Sou esquisitinha, sou! #2

Além de algumas coisas das quais não gosto, outras que não consigo explicar, há sempre aquelas que eu não entendo, por mais que passe algum tempo a reflectir sobre elas. Segue, por isso, a primeira leva, que pode ser que alguém me ajude a descortinar a luz, entre as minhas inquietações (sejam elas mais ao menos complexas):

1- Pessoas que comentam nas  supostas páginas "oficiais" de gente famosa, como se as conhecessem de longa data, e fossem muito íntimas. Será que sabem que essas páginas, muitas vezes, são geridas por acessores, outras vezes nem são verdadeiras (mas sim produto de algum fã por mim incompreendido), e que por mais que haja uma ligação no Facebook, isto não quer dizer que a celebridade vá responder ou convidar para tomar um chá, um dia destes, na sua casa? 

2 - Da mesma medida, e ainda mais estranhas, são, para mim, as pessoas que escrevem em páginas de Facebook de pessoas que faleceram, com mensagens direccionadas à/ao falecida/o em questão (seja ela famosa ou não).  Preciso de dizer o quão mórbido isso me parece?

3 - A necessidade de haver páginas a "informar" sobre os acidentes nas estradas de Portugal, com fotos. Sim, sim, o condutor gosta de saber se o seu trajecto está, ou não descongestionado, mas acho muito estranho ninguém ter pensado nas vitimas, nas famílias das vítimas, ou em qualquer pessoa que reconheçam os carros em questão (ou acha que reconhece) e que possa, com isso, sofrer uma síncope, antes de ter qualquer informação concreta, em condições dignas, seja ela boa ou pior. Informar que a estrada está congestionada, sim, mostrar fotos, não! Sensacionalismo barato e a mais, gente. Parece-me. (Ou será que não é e eu é que estou enganada neste mundo?) 

4 - Pessoas que não conseguem opinar sobre a beleza de algo, quando este é totalmente oposto àquilo que a própria pessoa usaria, gostaria, vestiria, e por aí adiante. Há várias coisas que eu não adoptaria, mas que reconheço que, noutras pessoas, fica bem, faz sentido, é bonito. "Gosto, em ti"; "não gosto, em mim" não são expressões excludentes, não precisamos de afirmar uma por oposição à outra quando nos perguntam directamente a nossa opinião sobre a beleza de algo, nem desgostar só porque a nós ficaria mal. Reconheço que há peças da Vista Alegre que são bonitas, mesmo que tal não signifique que compraria alguma para minha casa. Reconheço que o cabelo pintado de louro, quando bem feito, fique fantástico a muita gente, mesmo que não seja, de todo, a minha preferência, enquanto apaixonadamente brunette (que mais facilmente pintaria o cabelo de ruivo). Sou assim tão estranha? 

5 -  Pessoas que necessitam de se valorizar por constante oposição aos outros, que julgam inferiores, menos correctos, menos inteligentes, "menos" no cômputo geral, que pessoas assim vêem-se como superiores em tudo. Magnânimas na sua sapiência e únicas enquanto seres humanos racionais, especiais, melhores. Sempre achei que várias formas de olhar o mesmo objecto podem ser viáveis, podem coexistir, desde que bem fundamentadas, correctas (que a correcção muitas vezes não está apenas numa única perspectiva), sem precisar de se denegrir o outro, para se mostrar que se é melhor. Posso valorizar o que sou, porque acredito no que sou, defendo quem sou, sem fazer disso uma cruzada que mostre o outro como mau, ou o meu desprezo pelo que o outro é. Mostrem-me porque julgam a vossa a posição mais acertada, com bons argumentos, sem me espezinhar, e quem sabe eu própria não mude de opinião? A diferença pacífica, sem agressividade física ou verbal, é possível, julgo. Ou será que não e que eu sou uma idealista inveterada, que nunca vai compreender a forma como o mundo gira?

E para já é tudo, para a próxima há mais cinco, que o quotidiano é rico em momentos que não entendo, e a curiosidade é coisa para nunca me abandonar.  

3 comentários:

  1. O 4. é ponto em que concordo contigo em absoluto (não que não concorde nos outros): já te falei do meu odiozinho por peet toes e, no entanto, há gente que os rocka que é uma maravilha. Também não gosto de flatforms e há quem as use divinalmente (e o mesmo para verniz amarelo, telenovelas e a maioria de filmes de acção: eu não gosto, evidentemente não percebo muito bem que se goste, justamente porque eu não acho piada e, no entanto, gosto que se goste de coisas diferentes das minhas, para o mundo não ser um enfado).
    Já no que toca à 5. há áreas profissionais (entre as quais uma que ambas conhecemos bem) onde esta prática é desporto querido; no dia-a-dia, e correndo o risco de parecer sobranceira, quem o faz tem problemas graves de auto-estima. De resto já escrevi sobre isso: quando fica sozinho, sem o outro, de quem precisa para se sentir maior, é só ele ou ela frente ao espelho, com a sua pequenez. E isso deve ser castigo tão gigante que, mais do que raivinha, sinto uma pena imensa deste género.

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    1. Concordo. E sei bem (e conheço de perto) esse "desporto", mas continuo sem o entender.

      Mas acho que vou começar a acreditar, como tu disseste, que, em casa, ao espelho, essas pessoas, sozinhas, se tenham de deparar com a sua pequenez. Problema de auto-estima, per se, já é razão que posso compreender e, até, aceitar, vá. Ao contrário da auto-concepção enquanto ser superior.

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    2. Sabes que, com os anos, tenho-me convencido de que quem é realmente bom não precisa de termos de comparação. Aquela necessidade de depreciar o próximo para se manter na ribalta só pode significar um medo atroz de descer na tabela auto-criada (e quem tem medo de descer vê-se numa posição muito frágil)... Creio que quem é verdadeiramente genial nem se apercebe de que o é: é-lhe tão natural como respirar e nem pensa em concorrências (tenho a honra de conhecer alguns e são todos de uma bondade que chega a surpreender).

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