Hoje li num blog, que eu sigo e até gosto, não me
interpretem mal, mais um post de como disfarçar o corpo que se tem, como se de
uma coisa tenebrosa se tratasse e fiquei, mais uma vez, arroxeada de raiva. Não
totalmente roxa porque, definitivamente, não é algo que mereça assim tanto a
minha atenção, mas, talvez por causa da sequência de lamúrias constantes ou
atentados à saúde alheios que me têm rodeado, decidi partilhar convosco o que
penso sobre o assunto.
Depois de anos e anos subjugados a uma cultura da magreza
total, de Kate Moss para ainda menos pesadas, de mulheres direitíssimas e com um
ar pouco saudável, foi com bastante alegria que vi emergirem como os mais bonitos
e sexys do mundo corpos curvilíneos, delineados, com brilho. As campanhas Dove
e tantas outras seguiram a onda dos corpos naturais, que sentem orgulho da
estrutura que têm e a abraçam todos os dias. Mulheres com sorrisos na cara e
segurança no caminhar. Mulheres que se querem valorizar.
Não estou com isto a dizer que devemos descurar o equilíbrio
e engordar indefinidamente, porque devemos gostar de nós independentemente
de tudo. Nada disso. Mas sim que a alimentação saudável e o exercício devem fazer da nossa
rotina de bem-estar, de corpo e mente, e não serem os capatazes cruéis de uma
dieta louca que fazemos para emagrecer x quilos e que, cumprida a meta,
esquecemos. E aí engordamos tudo de novo, ficamos frustradas e lá vamos nós
transformar o corpo num io-io maluco, que um dia se revoltará contra nós. A saúde deve sempre estar em primeiro lugar.
Cuidando da alimentação diariamente e fazendo exercício (que
pode ser meia hora a dançar na vossa sala, sozinhas, não precisa de ser uma
corrida todos os dias. Quem me conhece sabe que sou mais dancer -- o que eu salto ao som dos The Killers -- do
que runner e temos de fazer o que nos dá prazer), os passos mais
importantes estão dados para a aceitação do corpo que se tem e que muitas
pessoas, a não ser por cirurgia estética (da qual também não sou propriamente
fã, na maioria dos casos), não irão conseguir mudar.
Portanto a palavra de ordem não deveria nunca ser
"disfarçar" mas sim "valorizar", "tirar proveito",
"engrandecer" o que temos de melhor. Uma sublimação sensata. Do nosso corpo, da nossa
felicidade, da nossa confiança e segurança. Chega de mulheres que vivem os dias
frustradas porque não emagrecem independentemente do que comem, ou porque têm
mais curvas que outras que comem muito mais. Porque os maridos/namorados as
querem diferentes (nem vou começar por aqui, porque daria todo um post
separado). Ou porque engordaram um quilo na barriga (que ninguém vê), mesmo
tendo IMC 18 ou menor. Cada uma tem o seu metabolismo e não somos todas iguais.
E ainda bem! Que triste seria o mundo se assim fosse.
Tendo dito isto, eu sou baixinha e em formato de pêra.
Passei a minha adolescência a ouvir que bonitas são as altas e magras, ao mesmo
tempo que as vendedoras das lojas me tentavam vender vestidos/saias/calças que
me "disfarçassem" ou retirassem tudo o que era curva do corpo (como se tal fosse possível!). A
ouvir que o meu "problema" estava atrás, no rabiosque, que, antes de
Beyoncé, Alicia Keys, Tais Araújo, Leandra Leal, Jennifer Lopez e tantas
outras, era uma afronta à beleza. Era frustrante? Pois claro que era, mas
felizmente cresci. Hoje vou a uma loja, visto um vestido justo (com uma cueca
da Tezenis, que não marca, porque gosto de curvas bem definidas) e gosto de me
ver ao espelho. Tento equilibrar o que como, mas como de tudo. Se abuso durante
uns dias, compenso com mais sopas, frutas e legumes nos outros. Bebo muitos chás,
dos bons, que não precisam de açúcar. Tento ter uma alimentação equilibrada, com tudo o que o meu corpo precisa. E não deixo que uns quilos a mais sejam,
de todo, motivo de ansiedade, revolta ou infelicidade. Se não os perco em uma
semana, num mês, perco em mais.
Sejamos então altas, baixas, direitas ou com curvas, tenhamos o
cabelo encaracolado ou liso, um tom de pele mais claro ou mais escuro, valorizemos o que temos, todos os dias. Sejamos saudáveis, equilibradas e felizes
porque, se há coisas que até podemos mudar temporariamente, há traços e formas
que nos fazem ser quem somos, diferentes e com heranças genéticas que mais
ninguém tem. Cuidemo-nos e aceitemo-nos. Acreditem, isso vale muito.Valorizemo-nos!