Cada pessoa sente a sua gravidez (e a própria vida, se formos a estender o conceito) à sua maneira. Por mais que nos informemos, que procuremos estar preparados para tudo e mais alguma coisa, na realidade os sintomas vão e vêm e são mais ou menos arrebatadores independentemente dos livros que leiamos, dos especialistas que consultemos, das pessoas que ouçamos. Não estou a dizer para seguirem a vossa intuição de forma totalmente aventureira, se tal não o quiserem fazer, mas apenas para relaxarem e fazerem o que mais segurança, confiança e paz vos dê, com a consciência de que a vossa gravidez será sempre a vossa, de mais ninguém. Eu, por exemplo, leio sobre determinados assuntos e separo muito o que acho que vai ao encontro daquilo que eu sinto e quero, estando sempre aberta a imprevistos, que são o prato de cada dia. Mas nem toda a gente tem, nem deve, ser assim. Estamos a falar de escolhas, não de um manual fechado de como se viver esta fase.
Posto isto, e sublinhando o facto de este relato ser só e tão somente a minha visão (mais uma vez, a minha experiência, destes meus nove meses que estão no final), se alguém vos disser, logo no início, mal apresentam a boa nova, para aproveitarem tudinho da gravidez ao pormenor, ao segundo, porque será uma das melhores, mais felizes, mais bonitas, mais etc. e tal fases da vossa vida, franzam a sobrancelha e façam cara ameaçadora: das duas uma, ou essa pessoa vos mente, ou encontrou algum elixir mágico e não quer partilhá-lo com o mundo. Ou, numa terceira hipótese, essa pessoa tem alguma disfunção em algum (ou mais) campos da vida pessoal, que canaliza tudo para um determinado momento, tornando-o um mundo de nuvens de algodão doce e cavalos mágicos alados, mas, mais uma vez, isso são outros quinhentos.
A gravidez, ou, vejamos, para não ferir susceptibilidades, a minha, não é pêra doce. Nem poderia ser. O corpo está, afinal, a adaptar-se a um ser estranho, que se gera e cresce dentro dele, forçando-o a reequilibrar-se, a reestruturar-se, a abrir-se e a trabalhar de forma diferente e muito mais acelerada. Parece uma tarefa simples e sem quaisquer danos colaterais? A mim não, nunca me pareceu, muito embora tivesse sido uma gravidez planeada, desejada e que nos faz muitíssimo felizes, não me entendam mal. Talvez o meu corpo, numa mente de control-freak, frenética, não estivesse habituado a ser forçado literalmente a abrandar, a sentir o descontrolo total e necessidades absolutas. Durante a gravidez, se houve coisa que o meu corpo me ensinou foi que quem mandava aqui, nesta fase, era ele, na sua tarefa hercúlea de gerador de um novo ser, uma nova entidade, com uma mente, com vontades, com uma vida que não era a minha, que eu não controlava totalmente. Mais uma vez, digam a uma fanática pelo controlo e perfeccionismo que, a partir de agora, nem tudo dependerá dela, por mais que ela seja o palco no qual se dá toda a acção. Digam-lhe que pode fazer tudo bem, tudo da melhor forma possível, que pode organizar o tempo, a sua vida, como especialistas mandam, e mesmo assim ser assolada por imprevistos que obrigam a mudar agendas, a rever objectivos, a reescrever o caminho que traçou, mesmo a curto prazo... É tarefa árdua (por mais que seja desejado!).
Conciliar papéis e funções de facto não é fácil, mas, acreditem, para mim, estes têm sido meses de aprendizagem, com o meu corpo no lugar de professor paciente. O tempo é contado de forma diferente, meses passam a semanas, os trimestres ganham outro sentido e as metas começam a ser instituídas por ecografias morfológicas, análises ao sangue e preparativos básicos como a compra de carrinhos, berços, fraldas e tudo o que o bebé precisar. Afinal, queremos que seja bem-vindo, com o melhor que temos para dar (que, mais uma vez, depende de cada pai/mãe e não é necessariamente a mesma coisa). As horas que consagrámos a determinados fins são, subitamente, arrebatadas por necessidades com as quais não estávamos à espera e a nossa reacção, outrora (quiçá) intensa, afectará, agora, outro ser. O stress, a ansiedade, as preocupações devem ficar para segundo plano e, para uma ansiosa crónica, reconhecer quando parar e quais as prioridades que marcarão o resto da nossa vida é um passo importante e essencial a dar. Sim, estes nove meses não têm sido apenas de crescimento físico, a adaptação mental, identitária, foi um processo que começou no início, desde que as duas linhas ficaram vermelhas, não apenas algo que se dará na altura do parto (pelo menos da mãe, o pai é todo um outro assunto).
Como, nesta Salinha, sempre se propôs falar, partilhar, dialogar sobre qualquer assunto que poderá ser de interesse, eis que este será o primeiro de alguns mais pessoais sobre o que foram estes nove meses. Sem cavalos brancos alados e arco-íris mágicos. Não porque quero massacrar alguém com relatos chatos e até incomodativos de uma intimidade forçada (nem isto é um diário, nem eu sou pessoa para os pequenos dramas sensacionalistas que tanto atraem), mas porque a alguém que, como eu, procure a internet para outras experiências, outras visões, outras sanidades (que há algumas à minha volta que eu questiono, francamente -- e que por sua vez me devem questionar a mim, e eu vivo muitíssimo bem com esta multiplicidade de perspectivas, desde que não haja coerções de parte alguma), a minha pode agradar e até servir de alívio entre tanta coisa que se ouve, mesmo sem se pedir, de gente tão diferente de nós. Felizmente tenho, agora, algumas pessoas, que se contam pelos dedos das mãos, cuja opinião prezo e com a qual me identifico, perto de mim. Recorro a elas, sempre, em dúvida. Mas nem sempre foi o caso e confesso que o primeiro trimestre (o próximo post) foi o que mais me assustou.
Se tiverem alguma sugestão, opinião, experiência ou partilha, não se acanhem, por favor. Eu ainda sou uma novata, ainda no processo, muito já passou mas ainda mais está pela frente. Todo o diálogo é bem-vindo. Obrigada! :)
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