Quando passeamos por Paris, uma das coisas que nos chama
desde logo a atenção é o preço da restauração. Toda a gente que por aqui passa
leva na memória pratos, normais, a mais de 15 euros (e a chegar aos entas num
sítio melhor), cafés a três ou seis euros, sobremesas a perto de dez e vá, nem
se fala do que custam as bebidas, um assombro para quem, no seu país, paga o mesmo
por um prato. Ao todo, numa refeição completa, num restaurante mais comum, aqueles
cujas esplanadinhas com aquecedores e mantas polares no Inverno criam cenários
românticos cinematográficos, podemos preparar-nos para receber contas de quarenta
euros, ou mais, por pessoa. Por isso, o turista mais descapitalizado come
crepes, sandes e as pequenas viennoiseries que vai encontrando nas boulangeries
espalhadas pela cidade, ou nas cadeias de comida rápida, que encontram em todo
o lado. Cá em casa, por mais que sejamos práticos e bem humildes na escolha das
refeições, não conseguimos, nem queremos, visitar uma cidade sem provar alguns
pratos mais tradicionais. Nas nossas buscas estão sempre, por isso, locais bons
e baratos, onde quer que vamos. E foi assim que abraçámos, com carinho e muito
amor, zona de Saint Michel e o Quartier Latin.
As pequenas ruas repletas de restaurantes a bons preços, mesmo
à beira do Sena, ali pertinho de Notre Dame, do Panthéon e a uma caminhada do
Louvre, têm qualquer coisa de acolhedor e pitoresco que eu adoro. Lá, sinto-me,
realmente, num Paris do qual gosto imenso, multicultural, com escolha e, acima
de tudo, amiguinho dos bolsos mais pequenos. As opções são diversas, entre comidinha
tipicamente francesa, com a sopa de cebola gratinada a aparecer em todos os
menus, até aos souvlakis gregos, ou às especiarias indianas e ao que mais
consenso reúne, a culinária italiana. É um Paris acessível a todos, que convida
a entrar, sentar, relaxar e a reunir forças para o resto do dia de passeio.
Normalmente gerido por estrangeiros (o que incomoda os
autóctones, orgulhosos da manutenção dos preços mais elevados, desafiados por
estes), é uma região com várias línguas e sotaques, que nos chamam a descobrir
as várias Formules (menus), a preços competitivos, que têm para oferecer ao
transeunte. A Rue de la Huchette é sempre o nosso ponto de partida em busca de
um lugar para comer, consoante o que nos apetecer no dia. Em frente de cada restaurante
há placas com as ofertas que começam, normalmente, nos menus de 10 euros, podendo
chegar aos 16, com entrada, prato e sobremesa. Os três, com umas quatro ou
cinco opções entre as quais podemos escolher o que mais convém à nossa fome e
vontade. Vários serão os senhores, ou senhoras, a aliciar-vos para o deles,
quando vos virem a olhar para as ofertas, mas, não se preocupem, levem o tempo
que quiserem para ver as outras e decidir, sem se enfiarem no primeiro. Há
muito por onde escolher.
Nos vários meses que já passámos pela cidade das luzes, há
alguns restaurantes que mereceram destaque e, até, um regresso simpático. Para
uma refeição com pratos franceses, com toque de caseirinho e um espaço muito
convidativo, temos o Petite Hostelerie, na Rue de la Harpe, onde encontrámos a
melhor sopa de cebola gratinada que já provámos, como entrada. Duas das
especialidades como prato principal da casa são o Boeuf Bourguinon, uma carne
estufada servida com batata cozida ou puré, ou a Andouillete, uma salsicha
fresca feita de tripas de porco ou vaca, de sabor bem forte, só mesmo para quem
gosta. Para fechar a refeição, a Tarte de Maçã, quentinha e ladeada de crème
fraîche, é uma óptima escolha. Os três, no menu de 10 euros.
Quem quiser pratos mais simples, com massas ou um bife com
molho de pimenta, encontra várias opções, na Rue de la Huchette. Um dos
nossos favoritos deste género é o La Braserade, com um empregado muito simpático
e boa comida, com menus a 12 euros. Como entrada, o melhor que já lá comi foi o
crepe de queijo e, diz quem o provou, o gelado de baunilha é delicioso como sobremesa. A
mousse de chocolate também não é má, admito. Como prato principal, eu já provei uma massa com cogumelos boa e o Steak au Poivre (bife com pimenta) é muito bom, acompanhado com as melhores batatas fritas que comemos nessa região.
Se, por outro lado, quiserem provar algo diferente, podem experimentar
alguma especialidade grega. Recentemente, descobrimos o Le Fil d’Ariane, com especialidades
da Ilha de Creta e um espaço bastante agradável, à média luz. Confesso que não
é tão bom quanto o que comi na Grécia, mas posso também estar a ser atraiçoada
pela memória inebriada da lua de mel. De qualquer forma, é muito bom para
provarem algumas delícias helénicas, entre as quais, para entrada, um Tzatziki
(pasta de iogurte com pepino e ervas), o Souvlaki (espetadinhas de carne) e, para
finalizar, um Galaktobureko, um dos muitos sabores maravilhosos que trouxe e
que, julgava eu, não iria encontrar noutros lados. Bem doce, é uma sobremesa
com massa brique, estaladiça, com um creme de leite dentro e embebida em calda
de açúcar. Uma pessoa saliva só de falar nela.
Estes são apenas três exemplos de restaurantes a bons preços
e boa comida (a relação ideal), que encontramos pelo Quartier Latin. Entre 10 a
16 euros por pessoa, podem ficar pelas formules e pedir apenas uma Carafe d’eau
(gratuita), ou vinho no jarro (uns 10 euros), para acompanhar. Guardem um espaço
na vossa agenda para passearem por lá, quem sabe entre a visita à catedral do
Quasimodo e a entrada no Louvre, ou depois da visita ao Panthéon e antes do passeio
no Sena de barco, que se apanha ali ao lado. Não se esqueçam de que vale sempre a pena, também, conhecer os sabores de uma cidade.
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Eu fui muito feliz em Saint Michel!
ResponderEliminarE eu continuo cheia de pena de não te ter levado aos gelados! :D
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