Há pessoas que gostam de falar muito. Sobre tudo.
Especialmente sobre a vida dos outros. Pessoas para quem o diz que disse do foi
não foi ganha a importância de uma declaração de um tratado de paz, ou, melhor
de início de hostilidades, como tanto gostam. Pessoas a quem importa o que
aconteceu, o que não aconteceu e, principalmente, a história mirabolante
daquilo que poderia ter acontecido. A veracidade é, para elas, tão relevante
quanto um guarda-chuva num dia de sol.
Há pessoas que são ouvidos, outras boca, algumas não querem
nem saber e há as universais, que são tudo e mais alguma coisa. Não contentes
em focinhar meandros que não lhes pertencem, absorvem o que podem (ou o que
querem, da maneira que mais lhes aprouver), criando o veneno adequado ao interlocutor
escolhido, que escorre das suas línguas bifurcadas. Acham-se senhoras, as
pessoas, estas, daquilo que afirmam com convicção, pensando, com isso, estar
acima dos mundos que vão partilhando por aí. Mas quanto se enganam.
Há pessoas que ouvem, e partilham, e adulteram o que já
interpretaram de forma adulterada. Juízes das palavras e acções que outros, os
pobres crentes, tiveram o azar de partilhar (ou não, porque se não se encontra
a informação, há sempre forma de a criar). Para quem o alento de uma maledicência
enche uma alma vazia, desprovida de sentido. Espírito inútil que se alimenta de
enredos alheios para esconder a solidão e frustração de uma vida pálida e
acinzentada. Sem cor, nem brilho, nem felicidade.
A Ellen Page disse, na sua declaração recente, brilhante, que "o mundo
seria bem melhor se nos esforçássemos para ser menos horríveis com os outros". Podíamos,
devíamos, começar por aí. Deixar de lado a tendência sedutora dos dedos
apontados, dos julgamentos de vidas outras, do complexo de divindade descida à
Terra, melhor do que os outros, das palavras ocas jogadas ao vento, ou à mente
de quem quer ser envenenado. A comunicação tem fins muito mais nobres que esse.
Um deles, simples, é, na dúvida, questionar sobre a veracidade das palavras
ouvidas por aí e, já agora, calar antes de afirmarmos o “certo” sem fundamento.
A sociedade agradece.
A sociedade em geral e eu em particular, que esta escumalha é igual em todo o lado, benzósdeus (que bem precisam).
ResponderEliminarVerdade! É defeito universal, que passa fronteiras. (Chiça!)
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