Há pessoas a quem um sorriso piedoso, acompanhado por um leve
abanar da cabeça de descrédito, durante uns segundos, é atenção mais do que suficiente que lhes prestamos. Durante a vida esbarramos com muitas deste tipo, a quem dedicamos mais ou menos tempo a compreender, atormentando-nos em fases mais inseguras. Mas, se há coisa que a segurança dos trinta
nos traz é a desvalorização completa das acções e comentários desses seres, outrora consumidores de energia e, infelizmente, em abundância - os invejosos.
Falo aqui de uma inveja má, daquela que corrói, daquela que
transmite uma energia tão negativa que parecemos envoltas num mundo de zombies
sisudos e austeros, que nos comem a essência. Daquela inveja que acontece
porque sim, porque quem a sente tem de sentir, por tudo o que façamos ou não
façamos, pelos pormenores aos quais ninguém liga, pelo ser que se é. A que vem,
também, muitas vezes sem darmos conta, em olhares maldosos para os nossos
sorrisos, a comentários de desdém para com os nossos sucessos. Mesmo por
aqueles que nos rodeiam (e nos quais, supostamente, deveríamos confiar).
Há pessoas a quem incomodamos só porque sim, só porque
existimos e tentamos fazer da nossa vida aquilo que sempre quisemos.
Incomodamos só porque lutamos e a nossa luta, embora não seja para todos, é desejada
por muitos, até por aqueles que não a quiseram, mas, caramba, mais ninguém a
deveria querer. Arriscar, ser feliz, tentar voar é humano, mas, se há aqueles
que nos apoiam com abraços e carinho, também os há que se escondem (ou não) na
obscuridade para se rir dos tropeções, das escorregadelas, dos passos atrás que
as caminhadas que valem a pena sempre têm.
Enquanto adolescentes, em crescimento, e não nos
conhecemos bem, nem aos outros, a inveja pode ser avassaladora e a tentativa de
compreender a razão que leva as pessoas a serem o que são para nós pode ser
desgastante, numa vida em que cada passo é medido para não incomodar ninguém. Deixamos de sorrir porque "já pensaste
que a tua alegria ao acordar pode incomodar os outros que acordam de mau-humor?!",
deixamos de sair porque "não gosto quando brilhas mais do que eu",
deixamos de ser simpáticos naturalmente porque "é chato para mim, toda a
gente gosta de ti", deixamos de ficar contentes pelos nossos feitos
"porque outros vão ficar tristes". Escondemo-nos, só porque a
alternativa nos parece demasiado penosa, especialmente quando não conseguimos
perceber o que fizemos de errado.
O que aprendemos com a idade, e que um espírito do eu futuro
nos deveria ensinar, é que o tempo mostrará que o incómodo que as pessoas, as
invejosas, sentem, nada tem a ver connosco. Parte, normalmente, de processos de
auto-comiseração, vitimização, inferiorização e culpa que as pessoas sentem por
elas próprias. Por não conseguirem ser quem somos, por não chegarem onde
chegámos (mesmo que tenham ido longe noutros caminhos), porque nunca se
sentirão satisfeitos com aquilo que são ou que têm. Mesmo que tenham muito mais
do que nós. Na realidade, é algo que as faz viver, uma fachada de superioridade
que camufla o tormento constante que as consome. Nada tem a ver connosco. Somos
apenas um bode expiatório de males dos quais não fazemos parte.
Por isso, se há coisa que os meus trinta me ensinaram é a
rir de invejas alheias, destas, as que não constroem nada de bom à volta, das
quais, se pudermos, nos devemos afastar. Assim, sem mais nenhum minuto gasto a
pensar nelas. As que nos querem roubar os sorrisos, mas que acabam por
recebê-los recheados de pena e compaixão. Porque não valem mais do que isso.
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