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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Brasil | Acampar no Parque Estadual do Ibitipoca

Se há coisa que muitos (e, felizmente, com o crescimento económico do país, cada vez mais) brasileiros fazem muitíssimo bem é aproveitar os fins de semana alargados, os feridões, para conhecerem melhor o próprio país. O "vá para fora, cá dentro", num país que tem tanto de extenso, quanto de diversificado e eclético -- cultural, social e geograficamente falando --, ainda é norma para quem quer (e pode!) aproveitar uns dias diferentes, longe da vida frenética das grandes cidades. Todos ganham; o turismo cresce, a pessoa relaxa, o dinheiro flui, a economia movimenta-se (vá-se lá entender os políticos em Portugal, que acham que é mais produtivo cortar com todos os feriados e deixar os trabalhadores, descontentes, oito horas, num dia tradicionalmente não-útil, cortando as asas a quem quer conhecer o país, a quem recebe mais turistas nessas alturas, aos fluxos que nos unem... Mas enfim, isso seriam outros quinhentos para outro post, daqueles a acompanhar com chá e bolachas, não este. E não sou economista.).  

No último, fomos até Conceição do Ibitipoca, no município de Lima Duarte (isso, como o actor) - Minas Gerais, com cerca de 2000 habitantes, a sensivelmente quatro-cinco horas do Rio de Janeiro, de carro. Acampámos no Parque Estadual, a três quilómetros da Vila, num lugar remoto, limitado a poucas tendas, que abraça a natureza e nos desliga do mundo. Foram quatro dias sem internet e, a não ser pelo telefone português, em roaming, que lá ia apanhando, no cimo da montanha, a Claro (operadora brasileira), a rede/o sinal de Oi, Vivo, etc., ficou para trás, na portaria, convidando a dias longe das modernidades tecnológicas que nos unem ao mundo que não está e nos separam daquele que está. Apesar da reticência inicial, e deixando todos os posts programados, na Salinha, confesso que foram dias que me fizeram muito bem, e me mostraram que consigo, ainda, passar um tempo sem telefone, tablet ou computador na mão, e não tenho ataques de pânico por causa disso. Pelo contrário. 

O Parque, bem organizado, oferece várias opções de trilhas e passeios, mais ou menos curtas, para o visitante aventureiro. No primeiro dia, cansados da viagem, o máximo que conseguimos fazer foi passear pela Prainha e mirante mais próximos. Por aqui tem escurecido por volta das 17:30-18:00, o que, num parque com pouca luz eléctrica, significa que as actividades têm de se adaptar às horas do Sol, sob pena de ficarmos num caminho desconhecido, à noite, apenas com a ajuda de uma lanterna (objecto obrigatório quando se vai acampar até Ibitipoca!). Deslumbrados pela beleza da Serra que nos envolvia, com tendas/barracas montadas, jantar feito com a ajuda de um pequeno fogareiro de campismo, panelas e outros utensílios de cozinha que levámos, passámos a primeira noite no Parque, onde ficámos deslumbrados com o céu estrelado, onde se via claramente a via láctea, várias constelações e planetas. (Se me permitem um conselho, levem roupas quentes e sacos-cama /de dormir quentinhos, muito quentinhos, porque, mesmo agora, ainda no Outono e com vinte e muitos graus durante o dia, a noite é de bater o dente, continuamente. Eu sou, francamente, a pessoa mais friorenta que eu conheço, especialmente à noite, portanto sinto sempre mais frio do que os que me rodeiam, mas, quando, de manhã, todos se queixaram do mesmo, vi que era, de facto, algo para o qual nenhum de nós estava realmente preparado. E olhem que levei roupa quente para o frio brasileiro, mas nem ela me salvou. )


No segundo dia, "no susto" (já que a caminhada era longa e a dúvida da nossa resistência era grande), aventurámo-nos pela trilha mais longa e exigente do Parque, a da Janela do Céu. O início, numa subida longa, com caminho que alterna entre a terra arenosa e a pedra, com vegetação rasteira e pouca sombra, foi, para mim, o que mais custou, embora o tivesse feito bem. O Sol da manhã ainda não era muito forte (nem imagino como será este caminho em pleno calor do Verão) e as pernas ainda estavam frescas. Muito bem sinalizada, ao longo da trilha podemos ver grutas, mirantes, espaços verdejantes e mais secos, mais ou menos agrestes, culminando no topo de uma cachoeira, do qual vemos a imensidão da paisagem e o céu. Os mais fortes mergulharam na água gelada da pequena piscina natural, formada pela água que aí aguarda até cair, pela Janela, continuando o seu curso. Eu molhei as pernas e tirei fotos, e já fiquei muito orgulhosa comigo mesma. Almoçámos umas sandes lá em cima, bebemos água de uma nascente próxima, antes de descer, por outro lado, mais fácil (afinal, "para baixo todos os santos ajudam"), e, passadas sete horas, estávamos de regresso ao camping, exaustos, mas muito satisfeitos e cheios de histórias para contar (especialmente as crianças, duas, que estavam connosco, e que aguentaram e se portaram heroicamente). Tomámos um banho merecido, quentinho, nos balneários/ banheiros do camping (bons para o que são), jantámos uma sopa encomendada na lanchonete no dia anterior, assámos uma linguiça e uma calabresa, e "descansa, corpo santo".
  

No sábado, os músculos relembravam o "susto" do dia anterior. Depois de mais uma noite fria, acordámos para um novo dia de caminhadas, desta feita até alguns pontos naturais mais próximos do parque de campismo, tendo a Cachoeira dos Macacos (vá-se lá entender o porquê do nome) como meta. Passámos pela Ponte de Pedra -- um enorme buraco escavado pela Natureza no monte de pedra, que se pode atravessar por baixo ou por cima --, por vários mirantes e chegámos a mais um oásis plano, entre quedas de água, numa harmonia entre pedra e rio, onde nos podemos deitar, sentar, ou sentir a força da queda nas nossas costas. A água estava menos fria do que na Janela do Céu, mas não estava, de todo, convidativa à entrada demorada sem tremeliques ou pele roxa. Quem não sofre de vertigens (como a minha cabeça, que quer ir mais além, mas é impedida pelas pernas que ficam bambas e ameaçam rebelar-se), conseguirá ver ainda uma pedra esculpida em forma de cubo, a Pedra Quadrada, e apreciar, mais uma vez, o horizonte que se perde por montanhas verdejantes e imponentes. Não sei se o regresso, quase sempre a subir e com muito menos sombra do que a ida, foi mais difícil pela fome, o cansaço acumulado, ou a inclinação do terreno, da qual o corpo já se sentia estafado. Mas, depois de um almoço tardio no buffet do restaurante do camping (no seu geral mais caro do que merecia, vá, mesmo sendo o único e a comida até fosse boa), a vontade de percorrer a outra trilha que nos faltava, para o Lago dos Espelhos, foi deixada, por alguns, para a manhã do dia seguinte, antes de arrumar tendas e seguir viagem, até ao Rio de Janeiro e Niterói. 


Quarto e último dia, que segunda feira já se trabalhava, foi muito mais relaxado. Fazendo a caminhada em falta, pelo Lago dos Espelhos, o Lago Negro e a Ducha, que afinal era muito mais curta do que, pelas contas feitas aos quilómetros, com o mapa na mão, nos fazia prever, dissemos um até breve ao parque e a Ibitipoca (cuja explicação do nome podem ver aqui). No primeiro, uma pequena praia de areia grossa, com um laguinho para onde cai uma cachoeirinha, apenas dois corajosos mergulharam; o cedo do dia e a sombra ainda não tinham deixado aquecer água e corpos para tal. O segundo, negro da profundidade do lago, era o menos convidativo e a Ducha, ponto final, onde ficámos mais tempo, a apreciar a fauna e flora do lugar, foi onde alguns aproveitaram para se despedir das cachoeiras. Em três horas, estávamos de regresso ao camping, arrumámos tudo nos carros, comemos um bolinho de aipim na lachonete, uns com carne, outros com queijo minas (o meu favorito) e seguimos viagem. 


No caminho Rio - Parque do Ibitipoca - Rio, houve ainda três paragens, duas delas que são, sem dúvida questões, nem contra-argumentos (sou assim, déspota), obrigatórias; a Casa do Alemão e o Pão de Canela da Dona Maria. A primeira, na saída ou chegada ao Rio, é famoso pelos croquetes e o pão com linguiça, ambos muito bons. Agora, as sandes que fazem com pão brioche, são de comer e chorar por mais. À ida, comi com queijo minas (de lamber os dedos e ficar com pena quando se dá a última dentada), que é um assombro de sanduíche, com uma quantidade de recheio assombrosa; no regresso, para um lanche com ar de jantar, optei por uma, recomendada por uma gulosa mais experiente, de lombinho fumado/defumado, e tive vontade de pedir a receita do brioche (cuja massa parece levar queijo, mas que tem algum segredo, com certeza), para fazer em casa. Di-vi-nais! Assim, sem mais comentários. 


A segunda paragem, à porta do Parque, no caminho entre a vila e a portaria, foi indicada, com fortes recomendações, pela veterana nos passeios a Ibitipoca, do grupo. Há mais de 15 anos que a Dona Maria vende o seu Pão de Canela, agora acompanhado por pães de banana, goiabada, coco com leite condensado (R$4/ 1,3€ cada) e broinhas de milho (R$0,50/0,16€), a quem sobe até à serra. Quentinho, preferi o de banana, mas o de canela aguentou para os pequenos almoços /cafés da manhã seguintes, mantendo todo o sabor. Parem, é o que vos digo, na Dona Maria, as pessoas que vos atenderão na janelinha da casa familiar são muito simpáticas, e o pão é delicioso. 


Parámos ainda no Armazen de Minas, tanto na ida, quanto na volta, onde comemos um pão de queijo, quentinho, delicioso, com pedaços de queijo derretido, e aproveitámos para comprar doces de leite caseiros, figadas e vários tipos de queijo (desculpem a repetição, mas não é à toa que Minas dá o nome a um deles, muito conhecido). Em Lima Duarte, é um óptimo lugar para abastecer, dar uma mangueirada ao carro todo empoeirado, no regresso, e comprar umas lembranças. Foi aqui que vimos o creme para pés, mãos e cotovelos de Sebo de Carneiro, que vos mostrei no Instagram

Quatro dias sem internet depois, o balanço resume-se a "quero voltar, várias vezes, mas levarei sacos cama e roupa para a noite muito mais quentes". É um passeio que se faz em grupo de amigos, adolescentes, adultos e até em família, para que as crianças comecem a apreciar o campismo, a natureza, a vida longe do movimento que nos aproxima e isola, das cidades. 

Aqui estou eu, o chapeuzinho amarelo, na foto. 


3 comentários:

  1. Viajei mais uma vez com o seu texto, Margarida :)

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  2. Divido o titulo de "veterana" nas idas a ibitipoca com meu caçula, que me acompanhou desde a 1º vez em que lá fui, inclusive na 1º ida à janela do céu...
    Acho que fomos os únicos (eu e ele =) a não sentir frio.... mas não foi por falta de aviso....
    Eu ADOOOOOOORO aquele lugar, e pude sentir (com gostinho de quero mais... =) um replay da nossa viagem, que foi sem duvida MARAVILHOOOOSA!!
    Marg. vc escreve muito bem, e foi sem duvida uma compania agradável. Só faltou filmarmos voce e minha irmã na dancinha do "apenas o necessário...." hehehehehehe

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