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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Disfarçar quem somos ou Valorizar o que temos de melhor?

Hoje li num blog, que eu sigo e até gosto, não me interpretem mal, mais um post de como disfarçar o corpo que se tem, como se de uma coisa tenebrosa se tratasse e fiquei, mais uma vez, arroxeada de raiva. Não totalmente roxa porque, definitivamente, não é algo que mereça assim tanto a minha atenção, mas, talvez por causa da sequência de lamúrias constantes ou atentados à saúde alheios que me têm rodeado, decidi partilhar convosco o que penso sobre o assunto.

Depois de anos e anos subjugados a uma cultura da magreza total, de Kate Moss para ainda menos pesadas, de mulheres direitíssimas e com um ar pouco saudável, foi com bastante alegria que vi emergirem como os mais bonitos e sexys do mundo corpos curvilíneos, delineados, com brilho. As campanhas Dove e tantas outras seguiram a onda dos corpos naturais, que sentem orgulho da estrutura que têm e a abraçam todos os dias. Mulheres com sorrisos na cara e segurança no caminhar. Mulheres que se querem valorizar.

Não estou com isto a dizer que devemos descurar o equilíbrio e engordar indefinidamente, porque devemos gostar de nós independentemente de tudo. Nada disso. Mas sim que a alimentação saudável e o exercício devem fazer da nossa rotina de bem-estar, de corpo e mente, e não serem os capatazes cruéis de uma dieta louca que fazemos para emagrecer x quilos e que, cumprida a meta, esquecemos. E aí engordamos tudo de novo, ficamos frustradas e lá vamos nós transformar o corpo num io-io maluco, que um dia se revoltará contra nós. A saúde deve sempre estar em primeiro lugar.

Cuidando da alimentação diariamente e fazendo exercício (que pode ser meia hora a dançar na vossa sala, sozinhas, não precisa de ser uma corrida todos os dias. Quem me conhece sabe que sou mais dancer -- o que eu salto ao som dos The Killers --  do que runner e temos de fazer o que nos dá prazer), os passos mais importantes estão dados para a aceitação do corpo que se tem e que muitas pessoas, a não ser por cirurgia estética (da qual também não sou propriamente fã, na maioria dos casos), não irão conseguir mudar.

Portanto a palavra de ordem não deveria nunca ser "disfarçar" mas sim "valorizar", "tirar proveito", "engrandecer" o que temos de melhor. Uma sublimação sensata. Do nosso corpo, da nossa felicidade, da nossa confiança e segurança. Chega de mulheres que vivem os dias frustradas porque não emagrecem independentemente do que comem, ou porque têm mais curvas que outras que comem muito mais. Porque os maridos/namorados as querem diferentes (nem vou começar por aqui, porque daria todo um post separado). Ou porque engordaram um quilo na barriga (que ninguém vê), mesmo tendo IMC 18 ou menor. Cada uma tem o seu metabolismo e não somos todas iguais. E ainda bem! Que triste seria o mundo se assim fosse.

Tendo dito isto, eu sou baixinha e em formato de pêra. Passei a minha adolescência a ouvir que bonitas são as altas e magras, ao mesmo tempo que as vendedoras das lojas me tentavam vender vestidos/saias/calças que me "disfarçassem"  ou retirassem tudo o que era curva do corpo (como se tal fosse possível!). A ouvir que o meu "problema" estava atrás, no rabiosque, que, antes de Beyoncé, Alicia Keys, Tais Araújo, Leandra Leal, Jennifer Lopez e tantas outras, era uma afronta à beleza. Era frustrante? Pois claro que era, mas felizmente cresci. Hoje vou a uma loja, visto um vestido justo (com uma cueca da Tezenis, que não marca, porque gosto de curvas bem definidas) e gosto de me ver ao espelho. Tento equilibrar o que como, mas como de tudo. Se abuso durante uns dias, compenso com mais sopas, frutas e legumes nos outros. Bebo muitos chás, dos bons, que não precisam de açúcar. Tento ter uma alimentação equilibrada, com tudo o que o meu corpo precisa. E não deixo que uns quilos a mais sejam, de todo, motivo de ansiedade, revolta ou infelicidade. Se não os perco em uma semana, num mês, perco em mais.

Sejamos então altas, baixas, direitas ou com curvas, tenhamos o cabelo encaracolado ou liso, um tom de pele mais claro ou mais escuro, valorizemos o que temos, todos os dias. Sejamos saudáveis, equilibradas e felizes porque, se há coisas que até podemos mudar temporariamente, há traços e formas que nos fazem ser quem somos, diferentes e com heranças genéticas que mais ninguém tem. Cuidemo-nos e aceitemo-nos. Acreditem, isso vale muito.Valorizemo-nos! 

12 comentários:

  1. Gostei muito deste post Margarida. E concordo muito contigo. Eu engordo, é um facto, mas como de tudo na mesma. E saber que uns kilos a mais já não desapareçem como há uns anos não me atrapalha nada. Como e gosto de comer. Aliás faz-me confusão pessoas ao meu lado sempre com a mesma conversa de dietas e afins. E no entanto as vezes gostava de não ter 4/5 kilos a mais, porque há dias em que uma pessoa não se sente tão bonita ou tão bem e implica com tudo, principalmente com o peso. Mas vivo bem com isso e melhor, continuo a comer. Levamos pouco mais desta vida para me privar de comer isto ou aquilo em nome da linha. Em relação a questão de comer até não caber nas portas, também cada um de nós deve ter limites e não engordar como se não houvesse amanhã, ai já passa por uma questão de saude e pode ser muito prejudicial, depois em vez de nos sentirmos mal apenas por estarmos mais gordas, também o nosso corpo se sente mal e avisa que alguma coisa não estamos a fazer bem e por vezes da pior forma. Enfim, eu também gosto de dançar, preenche-me muito mais do que ir para ginásios, mas tenho noção de que devia fazer mais exercicio fisico e não o faço :/ **

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    1. O essencial é sentirmo-nos bem e felizes, tudo o resto são imposições sociais/culturais de mundos que, muitas vezes, que não fazem sentido algum. :D

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  2. Eu sou daquelas enervantes que come o que lhe apetece e não engorda e tem corpo de pronto a vestir: tudo me assenta bem porque não tenho grandes curvas e o meu 1,72m deve ser modelo para essa gente que faz as roupas porque nunca fiz baínhas em saias ou calças. Mais: faço exercício para ganhar peso (porque o músculo pesa mais do que a gordura) e não para perdê-lo, mas adoro sentir-me tonificada (por mim e para contrariar os que me dizem, há vinte anos, que um dia vou ficar flácida: primeiro era aos trinta, depois aos quarenta - e para já nada). Tenho um metabolismo basal tão alto que o meu IMC chega a ser ridículo para quem me vê comer (e as pessoas têm de ver, porque de outro modo acham que me alimento a saladas e cereais) e não passo dos 55kg (agora e normalmente, tenho 53,5kg). E sabem o que me chateia? Quase de ter de pedir desculpa por isso. Ser olhada de lado porque me atrevo a não ter nada de que me queixe ou que tenha de "disfarçar". Uso uma copa entre A e B e as pessoas adoram dizer que não tenho mamas nem anca nem rabo. Mas tenho, só que são de um tamanho pouco vulgar em Portugal (perfeitamente normal nos países de leste, por exemplo).
    Tudo isto para dizer que passámos de um paradigma em que ou se era magra e popular ou gordinha e envergonhada, para um outro, em que quem não tem curvas deve ter um problema. E isso irrita-me, mesmo porque não gosto de paradigmas: na saúde, na moda, na beleza, na literatura ou no que quer que seja, sempre me estive nas tintas para o que é tendência e abomino gostos generalizados.
    Ou seja: não alinho neste paradigma como não alinho no anterior. Acho que ser saudável é a única coisa que importa e esta saúde tem de ser, mais do que física, também mental: a única forma de sermos felizes é olharmos para o espelho (não necessariamente o objecto espelho, mas o que nos reflecte) e gostarmos do que vemos, do que somos, do que defendemos.
    O resto são páginas que as revistas de moda e beleza (e os blogues, esse espaço em que todos podemos dizer o que nos aprouver, com mais ou menos fundamentação) têm de encher.

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    1. Também te entendo bem. Conheço também pessoas que se sentem frustradas exactamente por isso, porque queriam ter mais, ou pelo menos ter algo diferente. Chateiam-me também ambos os paradigmas, como normalmente me chateiam todos os extremos, como se nós, seres humanos supostamente racionais, não conseguíssemos viver no equilíbrio do meio, da igualdade, em que todos se aceitariam e pronto. Nenhum ideal melhor ou pior que outro.

      Como disseste bem: Ser saudável é, e deveria sempre ser, a única coisa que importa.

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    2. Ah, e só para voltar ao absurdo da coisa, a referência do blog que li era exactamente como disfarçar ancas, como se fossem o Mr.Hyde safado que a qualquer altura pode sair e zás, espalha o terror. Portanto não é aceitável nem ter anca, nem não a ter. Nem sei bem onde ficamos. :D

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    3. Muito bom o texto e os comentários!

      Eu sou do time das sanfonas, que emagrecem e engordam ao sabor do vento, mas com um viés grande para o lado cheinho da força ;)
      Uma coisa que me chamou a atenção nos dois textos foi o papel das lojas de roupas nessa história toda.
      Às vezes eu quase estou me convencendo de que meu corpo está ok, e que não preciso de menos isso ou menos aquilo, até que vou comprar roupa e nada me cabe e nada me assenta bem. É frustrante! E meu corpo não é nada atípico para padrões brasileiros.
      Mas de acordo com o comentário acima (Coisas e cenas), uma pessoa de corpo atípico para os padrões portugueses dá-se muito bem comprando roupas por lá. Então, onde está o sentido disso?

      É verdade que na hora de ouvir comentários desagradáveis, toda mulher, não importa o corpo que tenha, está na mesma situação. A nossa sociedade machista vive querendo distribuir seus "selinhos" de aprovação ou reprovação para cada mulher, quer ela peça ou não por isso. E quase sempre o selinho é para o corpo. Mas na hora de comprar roupa ainda são as magrinhas que levam a vantagem.

      Por fim, ainda vejo um desbalanço nos comentários feitos a magros ou gordos. Entende-se no caso dos magros que a magreza ou é acidental (genética) ou fruto de dieta, que a princípio é vista como uma atitude "nobre", mesmo que desnecessária. Já as gordinhas ou gordinhos são vistos como relapsos, preguiçosos, e mais outros tantos adjetivos relacionados não aos seus corpos, mas a sua moral.

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    4. Carol Vannier, por acaso tenho vindo a notar um outro fenómeno: ninguém diz a ninguém "olha, desculpa lá mas estás demasiado gordo" (e claro que não o dizem porque têm peninha, que também não é bom) já o contrário ("minha filha, estás magra que nem um cão, vê lá se vais ao médico que és capaz de estar doente") ocorre com demasiada frequência.
      De qualquer forma, não importa quem leva com mais comentários: importa sim que as pessoas devem preocupar-se em lidar com os seus corpos. Se cada um fizer isso, estamos lindamente.
      (e sim, eu dou-me demasiado bem a comprar roupas - pelo menos é o que diz o meu cartão de débito. Hehehehe!)

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    5. Olá (não sei seu nome!)
      Só complementando: não quis fazer parecer que estamos numa competição de quem leva a pior, que seria bem triste! Só fiz as ressalvas que fiz pq apesar de tudo ainda acho que a ditadura é da magreza, e acho que a imagem de um corpo saudável apesar de cheinho precisa urgentemente de reabilitação. Mas é verdade que hj não está fácil pra ninguém, e a culpa é justamente dessa vontade que as pessoas tem de se meter na vida alheia. Querem dar pitaco seja pra que lado for!

      Por isso acho genial a frase, que nem sei bem de quem é a autoria: "o melhor acessório é a confiança!" E às favas com que não gostar ;)

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    6. Exactamente, Carolina! Apesar de não ter grandes dificuldades em comprar roupa, a não ser por ser demasiado baixa para os padrões das grandes multinacionais de roupa, ainda apanho comentários menos agradáveis de pessoas que mais valia estarem caladas. Mais do que nunca acho que estamos é na ditadura da inveja, na qual se é olhado de lado porque sim e porque não.

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  3. E só agora percebi que post (e de que blogue) espoletou esta tua reflexão. Francamente, é sítio que acho muito pobrezinho, de uma senhora que teve a sorte de ser pioneira - e nisso, dou a mão à palmatória, teve olho. Mas tem um sentido de gosto fraquinho, muito fraquinho e claramente patrocinado, para além de (volta e meia) lá dar uns pontapés na gramática que são coisa para magoar quem está desprevenido.
    Não leio, embora a tenha no FB, para abrir os posts se me interessarem, o que raramente acontece. ;)

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    1. ;) Compreendi-te. :D (Também a tenho no facebook pelos mesmos motivos. Este chamou-me a atenção e lá fui eu ficar arroxeada :D )

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